Texto de Maria Luiza M. Spanghero Dolci – que também participou como voluntária do projeto que confeccionou milhares de máscaras para distribuição no município ao longo da pandemia -, pretende valorizar o esforço e a capacidade das pessoas em doar seu tempo em prol de algo maior.
A professora aposentada Maria Luiza M. Spanghero Dolci, que também é colaboradora no Museu Público Municipal e presidente da AMUD (Amigos do Museu Público Municipal de Descalvado), escreveu um texto contando um pouco de que como foi participar do ‘Projeto Máscaras Solidárias’, criado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social logo no início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020.
Além das atividades desenvolvidas junto à AMUD e o Museu Municipal, Maria Luiza também é escritora e foi uma das centenas de pessoas que aderiram voluntariamente ao projeto ‘Máscaras Solidárias’, cujo principal objetivo era o de contribuir com o abastecimento de máscaras para os profissionais da linha de frente no combate à Covid-19.
“Entendo que o texto foi no sentido de valorizar o esforço e a capacidade das pessoas em doar seu tempo em prol de algo maior. A intenção é contar essa história para que fique registrada. Por isso, procurei colocar o máximo de informação possível de como foi o processo que levou à confecção das máscaras”, explicou a professora aposentada e voluntária do projeto.
Ainda segundo Maria Luiza, o texto é um registro pessoal sobre esse momento histórico que a cidade e todo o planeta vivenciaram (e ainda vivenciam), e o quanto a solidariedade das voluntárias descalvadenses pode ter feito a diferença.
Leia abaixo a íntegra do texto de Maria Luiza, voluntária do projeto ‘Máscaras Solidárias’:
A PANDEMIA E A SOLIDARIEDADE
Maria Luiza M. Spanghero Dolci
Há algum tempo atrás, ninguém imaginava o cenário que viveríamos nos anos de 2020 e 2021, estávamos relativamente seguros, acostumados à rotina de trabalho, estudos, passeios, viagens e reuniões familiares nos fins de semana. Vez ou outra enfrentávamos uma crise econômica ou uma crise política. Crises essas que fazem parte do que somos, da nossa história e de nosso cotidiano. Todo brasileiro nasce e cresce em volta à “Crises”, somos forjados por elas. Já enfrentamos inflação, carestia, crise hídrica, racionamentos de energia elétrica e muitas outras situações. Superamos sempre.
No final de 2019 e início de 2020 o Brasil e o mundo foram forçados a voltar seus olhares a um novo problema. Uma crise mundial envolvendo o risco de contaminação através de um vírus que poderia ser letal aos seres humanos. O chamado Novo Corona Vírus, ou simplesmente Covid-19.
Como se defender de um vírus que poucos conheciam? As informações eram controversas, gerando medo e angústia, pelo menos nas pessoas que tinham plena consciência da ameaça que as envolviam.
Uma crise pode trazer à tona o que há de melhor e o que há de pior nas pessoas. Governos podem cair, novos governos podem ascender, mas governos não importam, eles também são passageiros. O que importa são os agentes da história, as pessoas que fazem a diferença no nosso dia a dia.
A grande maioria dos indivíduos, como estava dizendo, trazem à tona o seu melhor. Todos nós, nesses últimos dois anos de confinamento e isolamento social, pudemos testemunhar esse fato. Simples ações ou gestos, ou mesmo grandiosas que acabaram ganhando o mundo das notícias e ajudaram a tornar o momento de crise em um momento de amor e fraternidade. São as ações em relação ao próximo é o que nos tornam humanos.
Descalvado não fugiu à essa regra. Muitas mãos se estenderam para pessoas que da noite para o dia não tinham mais seus empregos, muitas doações foram feitas: roupas, alimentos, material de higiene, álcool gel, tecidos e elásticos para a confecção das máscaras. Ocorreu grande participação do empresariado local nas doações. Muitas portas fecharam, mas outras se abriram. Muitas mentes criativas entraram em ação para a solução de problemas. Muitos vizinhos se ajudaram. A maioria, tenho certeza disso, se solidarizou com as famílias que foram vítimas do Covid-19, com cada perda sofrida por nossa cidade, por cada descalvadense que partiu.
Venho aqui, através desse artigo, falar de um projeto de voluntariado que confeccionou milhares de máscaras de proteção, do qual tenho orgulho em dizer que fiz parte por alguns meses, projeto esse encabeçado pelo Fundo Social de Solidariedade de Descalvado. Logo que foi declarado o estado de pandemia, a assistência social do município deu início às ações necessárias para tentar suprir as necessidades da cidade diante do quadro crítico que formava.
Maria do Carmo Marcatto Reschini – Secretária de Assistência Social e Presidente do Fundo, explicou em entrevista como surgiu essa iniciativa:
“Observando os acontecimentos do mundo e das dificuldades que não apenas o Brasil, mas muitos países enfrentaram diante do quadro pandêmico em encontrar materiais e equipamentos necessários para amenizar os impactos negativos que sofríamos, decidimos na comunidade, com a força da solidariedade a procurar costureiras para que pudéssemos confeccionar nossas próprias máscaras de proteção. Uma vez que essas máscaras estavam desaparecendo do mercado e os profissionais que trabalhavam na saúde pública e também em outros setores, precisavam se proteger para poder continuar atendendo a população em geral” …
Assim, sabendo que o desabastecimento das máscaras estava deixando os profissionais da saúde, do social e demais profissionais que estavam trabalhando na linha de frente expostos, foi definido como meta do projeto a distribuição inicial a eles e a toda população que se utilizava dos serviços por eles prestados.
Ocorreu uma grande adesão de mulheres que doaram seu tempo em prol de um objetivo tão nobre. Mantendo o isolamento social, cerca de 100 voluntárias passaram a receber em casa um kit com os tecidos (TNT) previamente cortados no tamanho adequado para cada máscara, contando também com os arames e elásticos necessários, bem como os carretéis de linhas. Os kits eram preparados no prédio do Plimec, pelas profissionais do local, professoras de costura e arte, bem como outras pessoas voluntárias, que mesmo não sabendo costurar, se prontificaram em agregar ao grupo mãos que separaram e contaram cada item que compunham os kits. O Fundo Social do Município deu todo o suporte para que o trabalho continuasse, tesouras foram afiadas, máquinas que precisavam de manutenção foram encaminhadas para os profissionais adequados para o trabalho. Vídeos explicativos de como deveria ser a confecção das máscaras, para que não saíssem do padrão de segurança necessário. Um motorista da prefeitura ficou à disposição do projeto para entregar os kits e recolher as máscaras prontas nas casas das costureiras voluntárias. A comunicação com todos os voluntários seguiu por via grupo no Wattsapp.
Foi também providenciado um alerta em carro de som feito pela Assistência Social para conscientizar a população sobre a importância do uso imediato e contínuo de máscaras nas ruas, combinando com as demais regras sanitárias, a fim de administrar a pandemia de modo responsável e dar o tempo necessário para se encontrar uma vacina.
A Assistência Social realizou parcerias com o Fundo Social de Solidariedade, Secretaria de Saúde, Colaboradores, e iniciou não somente a produção e distribuição das máscaras, como também ensinou a população a confeccionar suas próprias máscaras de proteção em casa com nada mais que apenas uma tesoura e tecido de uma camiseta de algodão, por exemplo.
No decorrer do projeto, o Fundo Social recebeu a doação de camisetas em malha picket (vermelha e branca), às quais foram transformadas em máscaras mais protetoras que as de TNT aos profissionais da linha de frente. O projeto “Máscaras Vermelhas na Linha de Frente” é uma ação da Assistência Social juntamente com as artesãs oficineiras dos Núcleos de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e demais alunos que frequentam estes Núcleos.
Em parceria com o Fundo Social de Solidariedade, o projeto é coordenado por sua presidente, Sra. Maria do Carmo Marcatto Reschini, mediante o recebimento de uma quantidade de camisas polo em malha piquê na cor vermelha, gentilmente doadas por uma empresa de nossa cidade. O projeto de proteção à vida consiste no reaproveitamento das camisas para a confecção de máscaras de barreira, com dupla camada de algodão confeccionados no modelo das N95.
As máscaras vermelhas foram entregues a todas as unidades de saúde do município, num total de 1.246 unidades. Todos os setores dos profissionais da Secretaria de Saúde foram atendidos: CAPS, CEME, Centro Odontológico, Controle de Vetores, Farmácia Municipal, NAICA, sede da Secretaria de Saúde, Transportes, USF Raphael Chiarello [Bairro Jardim Albertina], USF. Norma Moreira Colucci [Bairro Jardim Colonial], USF. Maria Martins Kastein [Bairro Morada do Sol], USF. Arlindo Zóia [Bairro Santa Cruz], USF Benedicto Arruda de Oliveira [Bairro São Sebastião], USF José Ignacio Alonso [Bairro Tamanduá], NASF, Centro de Saúde Dr. Vital Brasil, Vigilância Epidemiológica, FÊNIX e Santa Casa de Misericórdia.
Na Secretaria de Assistência Social foram atendidos os servidores da ala administrativa da secretaria, bem como do CRAS, CREAS e Casa dos Conselhos. O projeto atendeu também o Conselho Tutelar, Secretaria de Agricultura e parte da população.
Além disso, o Fundo Social recebeu também a doação de jalecos de brim 100% algodão, que foram restaurados pelas costureiras voluntárias e destinados à vigilância epidemiológica.
O Projeto Máscaras Solidárias iniciou sua distribuição em 25/03/2020 e, até a data de 17/08/2020, havia distribuído 62.487 máscaras para: Secretaria de Assistência Social (10.709); Secretaria de Saúde (20.064); Secretaria de Educação (15.349); Secretaria de Obras (3.590); Secretaria de Agricultura (2.147); Paço Municipal (3.528); Colaboradores e Parceiros do serviço público (4.920); SEMARH (1.680), e outros atendimentos (500).
Esses números impressionam por si só, mas o trabalho continuou durante o ano vigente, sendo que, até o momento em que esse artigo estava sendo escrito, o total de máscaras de TNT confeccionadas atingiu a marca de 111 mil unidades.
O projeto continua em andamento. Muitas mãos trabalhando em prol da segurança e proteção dos nossos heróis da linha de frente no combate e no atendimento da população e também na proteção da população mais carente.